6 de janeiro de 2011

A polêmica das vacinas

 

Muitos de vocês já devem ter lido vários artigos falando sobre os novos estudos que sugerem que as revacinações anuais são desnecessárias e podem até ser perigosas. Por outro lado, os veterinários explicam que o fato desses estudos serem feitos nos EUA onde a cinomose,por exemplo, já está praticamente erradicada, leva ao erro quando trazemos essa realidade para o Brasil que é um local onde cinomose tem aos montes, parvovirose ídem, o saneamento básico e saúde pública são precários e temos milhares de cães errantes e doentes pelas ruas.

Visto isso, resolvi pesquisar e trazer para vocês um dos resultados da minha pesquisa.

O que muitos não sabem é o porque do animal não poder ser vacinado logo quando nasce. É porque no intervalo de  nove a doze semanas os filhotes ainda podem estar com a imunide adquirida passivamente. O que é isso? É simplesmente a imunidade que eles recebem através do colostro do leite materno logicamente se a mãe teve os devidos cuidados e imunizações. Durante os primeiros dias de vida em que o animal não está com o sistema imune ainda completo, imunoglobulinas são passivamente transmitidas das mães para os filhotes através do colostro materno. Acontece que entre a 6ª e 9ª semana há uma baixa potencial nessa imunidade adquirida passivamente, e é aí que mora o perigo pois  é quando os animais tornam-se susceptíveis à infecções naturais, porém, é também quando os animais são capazes de receber as vacinas e responder adequadamente a elas.

Como não se tem na prática como fazer contagem de anticorpos circulantes no Brasil atualmente, utiliza-se um protocolo em que o filhote deve receber três doses vacinais com intervalo de 3 a 4 semanas cada uma. A primeira vacina recomenda-se ser aplicada entre 6 a 8 semanas de idade.

No estudo, fizeram sorologia nos animais antes e depois das vacinações para obter dados quanto aos anti corpos circulantes. Com com 6 semanas de idade não foi mais encontrado anticorpos contra cinomose, concluindo assim que os animais já estavam susceptíveis à infecção e prontos para a primeira dose da vacinação.

Os pesquisadores perceberam que de 6 a 9 meses depois à última dose do primeiro ciclo vacinal os títulos de anticorpos contra o vírus da cinomose obteram as taxas máximas. Porém, após esse período, os títulos foram caindo até os 12 meses após a terceira dose do primeiro ciclo vacinal, quando houve o primeiro reforço vacinal.

Os pesquisadores perceberam que mesmo os animais respondendo bem à primeira dose vacinal, houve aumento de títulos de anticorpos após a última dose (reforço anual) provando que mesmo os animais já terem tido boa resposta ao primeiro ciclo vacinal há a necessidade do reforço anual. Isso ocorre porque na literatura fala-se que se o animal já apresenta bons níveis de anticorpos, mesmo que seja inserido mais vírus vacinais ou naturais, o animal não apresentará aumento significativo dos anticorpos.

O trabalho sugere também que a resposta aos antígenos depende de fatores genéticos de cada animal, pois, mesmo recebendo todos a mesma dose de vacina, na mesma época, em mesmas condições de saúde e tratamento, alguns apresentaram variações na titulação de anticorpos. (Por exemplo, um animal apresentou titulação 5 após três meses da última dose vacinal do primeiro ciclo vacinal, enquanto os outros tiveram média de 4,19, enquanto também outros animais apresentaram titulos de 4,499 6 meses após a revacinação anual enquanto o resto dos animais apresentaram uma média de 4,880)

Os pesquisadores demonstram como o vírus da cinomose tem uma resposta ao antígeno viral lento e progessivo, estando os níveis significantemente aumentados apenas 6 meses após a última dose vacinal (ou, primeiro reforço anual), quando, na maioria das outras doenças, 30 dias após a vacinação os animais já apresentam bons níveis de anticorpos.

Alguns animais apresentam níveis bons de anticorpos contra cinomose até dois anos depois da aplicação, e outros chegam de 3 a 7 anos de resposta à vacina. Porém, muitos fatores influenciam na qualidade e duração da resposta imune, entre elas, estão:

“(…)amostra viral utilizada, a massa antigênica ou o título vacinal, o grau de atenuação do antígeno viral, a interferência de anticorpos transferidos através do colostro, ou pela utilização de soros hiperimunes que contém anticorpos contra cinomose.Existem também os fatores relacionados ao próprio hospedeir, como a variação individual na capacidade de resposta a uma mesma vacina, o estado nutricional, parasitismo, os estados de imunodeficiência de causa genética ou não, os fatores relacionados às condições ambientais, interferindo na aclimatação do animai em condições externas adversas

O trabalho acaba falando que a necessidade de revacinação anual com base nesse trabalho não é necessária, porém, pondera que o número de animais utilizados foi pequeno e mesmo dentro desse grupo foram encontrados variações bem grandes, sendo portanto, mais recomendado a revacinação anual quando não se há devido controle com todas os fatores influenciantes (como a primeira vacinação exatamente após os níveis de anticorpos passados pelo colostro terem acabado, titulações periódicas de anticorpos, controle sobre a saúde geral do animal e todas as outras variáveis que foram apresentadas acima.

O trabalho, no entanto, conclui que não é necessária a reforço exatamente 1 ano após a última aplicação (ou primeiro reforço anual).

88626907

Uma coisa que eu considero muito importante, é sentar e conversar francamente com o seu veterinária de confiança, mostrar materiais que você está lendo, discutir e chegar a um protocolo que seja o ideal para o SEU animal e para as SUAS condições.

A relação proprietário/veterinário é de extrema importância e traz benefícios para todos os lados principalmente para o alvo de tudo isso: os animais e o seu bem estar.

 

Fonte: BIAZZONO, L., HAGIWARA, M.K., CORRÊA, A. R. Avaliação da resposta imune humoral em cães jovens imunizados contra a cinomose com vacina de vírus atenuado. Baz. J. vet. Res. anim. Sci. São Paulo, v. 38, p. 245-250, 2001

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente a vontade.
Mantenha as normas básicas de convivência e seja bem vindo.