24 de fevereiro de 2011

O Mundo Pet dá a volta: Febre Maculosa em cães

 

Essa é a nova seção do blog. Significa que o nosso mundinho voltará a uma postagem para responder quando pertinente algum comentário com dúvida deixado por vocês.

Hoje para começar, vou responder a pergunta do fofo Ed Wood sobre o post Erlichiose ou Doença do Carrapato.

Quem tiver mais dúvidas sobre o conteúdo das postagens, deixem nos comentários as dúvidas ou mandem e-mails para alinevienamev@gmail.com ou luciana_fiuza@hotmail.com que iremos responder assim que possível.

Ed Wood Pergunta:

Oi, tia Aline. Como cão beagle, sou inteligente e me interessei por esse assunto. Aqui no sítio tem muito carrapato e eu sofro com eles. Mãe Nina tem usado uns remédios, uns tais de Program e Revolution, mas continuo pegando carrapato. É que sou muito arteiro e vou nos lugares onde têm as cabras, as vacas, e até onde estão as capivaras. E também costumo passear no sítio vizinho, que tem cavalos. Aí, me ocorreu uma coisa. Aqui na minha região, cidade de Itatiba, próxima a Campinas/SP, andaram ocorrendo alguns casos de febre maculata, transmitida por carrapatos que, aparentemente, seriam vetores dessa doença proveniente de capivaras contaminadas. Nós, cães, também poderíamos estar sujeitos a ela?
Uma lambida bem carinhosa no seu coração.

Resposta da Luciana:

oi ed!

sobre os carrapatos, eu também tenho cães em sítio e faço o seguinte: todo o mês aplico 1 pipeta neles, cada mês uma marca diferente com ativos diferentes. todo mês religiosamente, sempre no mesmo dia. mesmo assim já aconteceu de achar 1 carrapato, então verifico eles todos os dias! a escovação ajuda também...
outra solução são as coleiras que são para carrapatos, pulgas e mosquitos. mas meu veterinário não gosta especialmente porque meus cães vivem dentro d'água.
espero ter ajudado!!

Resposta da Aline

Bom Ed, eu tive que pesquisar pra trazer para você a resposta e acredito que seja útil não só a você e a sua mamis, como a muitos leitores que vivem em regiões como a tua.

Quando fui procurar sobre “febre maculosa” o que eu achei foi:

“A febre maculosa é uma infecção aguda causada por uma bactéria, a Rickettsia rickettsii. O homem é infectado através da picada do carrapato que eventualmente carrega esta bactéria nas suas glândulas salivares.”

ABC da Saúde

Como sou chatinha e gosto de fontes de confiança, peguei essa informação e fui para o Google Acadêmico onde eu consigo achar artigos científicos sobre o assunto que eu queira.

carrapatoFonte: http://www.merial.com.br/donos_caes/produtos/linha_frontline/campanha/images/carrapato.gif 

Histórico:

O primeiro caso conhecido de Febre Maculosa das Montanhas ocorreu em 1896, em Idaho, EUA onde foi chamada de “Doença Febril Endêmica” . Apenas em 1902 descobriu-se a participação do carrapato na transmissão da doença e em 1916 a bactéria causadora foi nomeada como Rickettsia. No Brasil, ela foi “descoberta” na década de 30 tendo vários casos de óbito devido à doença, onde até hoje assola alguns estados como São Paulo e Minas Gerais, estes tendo a maior incidência da doença diagnosticada.

Agente etiológico(causador):

A Rickettsia rickettsii é uma bactéria causadora da Febre Maculosa das Montanhas Rochosas, que no Brasil, primeiro foi reconhecida como Tifo Exantemático e hoje é chamada de Febre Maculosa Brasileira. A R. rickettsi vive dentro (mais precisamente nas glândulas salivares e ovários(4)) dos carrapatos, sendo estes, seus hospedeiros naturais, reservatórios e vetores(ou seja, quem as transmite a outros indivíduos).

visuel-Rickettsia-rickettsii-cc3

Fonte: http://www.vulgaris-medical.com/upload/visuel-Rickettsia-rickettsii-cc3.jpg

Vetor(transmissor):

A espécie mais comum de carrapato a “albergar” a R. rickettsii é o Amblyoma cajannense. Porém, não é a única, tendo também como albergadores da Riquettsia rickettsi espécies de carrapato como A.aureolatum, A. ovale, A. brasiliensis e A. cooperi. Entre esses, o A. aureolatum tem sido amplamente difundido pelo Brasil parasitando diversos animais como cabras, cães, bois, gambás, capivaras, veados e vários canídeos selvagens.

emergentes2_fer2

Amblyoma cajannense

Fonte: http://www.fiocruz.br/ccs/especiais/emergentes/emergentes2_fer.htm

Sintomas:

Nos seres humanos a sintomatologia clínica é de febre, cefaléia e exantemia, calafrios, prostração, mal estar, mialgia, artralgia, erupções cutâneas maculopapulares.

febre maculosa

Fonte: http://www.brasilescola.com/upload/e/febre%20maculosa.jpg

O cão também é susceptível à Febre Maculosa tendo a mesma sintomatologia clínica que os humanos, porém, na maioria dos casos, o animal portador não demonstra clinicamente afecções sendo classificado então como uma doença subclínica na maioria dos cães .

A sintomatologia em cães que é o importante para esse espaço começa a aparecer 2-3 dias depois da infecção e o primeiro sinal é de febre. De 4-5 dias depois começam a aparecer lesões cutâneas em forma de vesícula, petéquias, ou ecmoses hemorrágicas que são seguidas por depressão, anorexia, descarga nasal, ocular, tumefação escleral, tosse, dispnéia e aumento de sons bronco vesiculares(3). Nos exames complementares podes ser encontrados Anemia e leucocitose(aumento dos leucócitos-células de defesa). O endotélio vesicular também apresenta-se com injúrias e a permeabilidade vascular fica comprometida por isso.

Epidemiologia:

Essa doença normalmente ocorre mais em zonas rurais e está relacionada com o aumento da quantidade de parasitas transmissores na região, porém em uma pesquisa feita em Porto Alegre (2) mostrou que cães vadios apresentavam-se infestados basicamente por carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus e pelo Amblyoma aureolatum mostrando assim que pode sim, haver em áreas urbanas casos de Febre Maculosa na área urbana.

Nesse estudo, o que eu achei impressionante foi que em 236 cães, eles encontraram nada mais, nada menos que 5294 carrapatos sendo que 93,22% dos animais estavam infestados com o R. sanguineus, 2,97% com A. aureolatum e 3,81% estavam infestados por ambas espécies.

Só pra ser chata lembrar mais uma vez, você que cruza seu cãozinho lindo, com a cadelinha linda da vizinha e essa vizinha larga todos na rua, ou dá pra uma prima do cunhado do sogro da irmã que joga na rua, lembre-se da sua participação culpa pela disseminação de carrapatos na rua e seus “brindes”. Não se esqueça também que vocês estão pondo em risco não só a saúde do seu machinho das bolinhas balançantes, como do seu filho, sua esposa, sobrinho, tia, avó e até a sua. Abandonar cães é crime e questão de saúde pública.

PINTER et al. detectaram 16 cães(de 25 estudados) capturados da cidade de São Paulo que obtiveram uma titulação alta pelo teste de imunofluorescência indireta(IFI) para Rickettsia spp e concluíram que cães são importantes sentinelas da Febre Maculosa em locais onde exista alta incidência de Amblyoma aureolatum.

 

Diagnóstico:

Apesar da importância que sempre ressaltamos aqui no blog de exames laboratoriais complementares, a Febre Maculosa é uma doença que em áreas endêmicas a sintomatologia deve ser razão suficiente para o começo imediato do tratamento. Isso porque sua alta letalidade não aguarda o prazo dado pelos laboratórios.

Porém, durante o tratamento deve-se fazer o tratamento a fim de saber se é mesmo a Febre Maculosa. Esses exames são: hemograma, biópsia de pele, isolamento em carrapatos retirados do paciente, PCR,

Tratamento:

O tratamento deve ser o mais rápido possível, tendo prognóstico bom antes do 5º dia e ruim depois do mesmo prazo. O indivíduo é submetido a antibioticoterapia que deve durar o tempo necessário para que o mesmo se recupere e esteja estável.  

 

Espero ter ajudado.

Beijinhos.

 

 

Referências.

1. RIBEIRO, Vera Lúcia Sardá, et.al., Espécies e Prevalência das Infestações por Carrapatos em cães de rua da cidade de Porto Alegre, RS, BR. Ciência Rural, v.27, n. 2. Santa Maria, 1997.

2.MELLES, Heloisa Helana B., COLOMBO, Silvia, SILVA, Marcos Vinícius. Febre Maculosa: Isolamento de Rickettsia em amostra de biópsia de Pele. Rev. Inst. Med. Trop., v. 34, n.1, p. 37-41, 1992.

3. PINTER, Adriano et al., Sorologia para Rickettsia spp. em cães e humanos de uma área endêmica para febre maculosa brasileira no Estado de São Paulo, Brasil. Caderno Saúde Pública. v.24. n.2. p. 247-252, 2008.

3 comentários:

  1. o difícil é mandar sacrificar seu animal,se a doença é mascarada com tantas outras não existe ainda uma vacina?

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  2. como fica a gente quando o animal precisa ser sacrificado e a doença mascara se tanto.?pode ser ou não, os sintomas são de tantas doenças.

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  3. o difícil é mandar sacrificar seu animal,se a doença é mascarada com tantas outras não existe ainda uma vacina?

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